quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Borboletas Brancas


Esta fábula foi retirado do livro "A maravilhosa Semente de Pera e outras fábulas do mundo" 
Borboletas Brancas

Muito tempo atrás existiu um rico negociante de seda que tinha uma filha única, uma jovem adorável cujo nome era Yingtai.
Yingtai tinha um sonho: ela queria ir para a escola, o que na velha China era um privilégio que somente os meninos pertencentes às famílias do mais alto nível social podiam ter.
Ao completar quatorze anos de idade, ela conseguiu persuadir seu pai a deixá-la ir estudar com um professor bastante conhecido.
“De todos os tesouros que eu tenho, Yingtai, você é o mais precioso”, disse-lhe ele comovido. “Eu consinto que você vá, mas com uma condição. Você tem de se vestir como um rapaz, e não deve dizer aos seus colegas quem você é, enquanto estiver fora de casa.”
A menina partiu e ficou fora durante longos três anos, morando e estudando num internato que ficava no topo de uma montanha distante.
Ao longo desse tempo, ela acabou se apaixonando por um de seus poucos colegas de classe, Liang, que nem por um instante jamais suspeitou que ela era uma menina. Liang, a quem Yingtai chamava de Shanbo, porque esse era seu nome de família, gostava muito dela e se sentia fortemente atraído por seu companheiro de estudos.
Bem, três anos se passaram. Yingtai, que amava Shanbo cada dia mais, não podendo mais se conter, revelou sua verdadeira identidade à esposa do mestre, que há muito suspeitava ser ele, na verdade, uma moça. Ela prometeu a Yintai que tentaria, na medida do possível, promover o casamento dela com Shanbo, caso tivesse a oportunidade.
No seu último dia na escola, Shanbo acompanhou-a até o potão de saída. Yingtai estava triste e permaneceu em silêncio o tempo todo.
“Não fique triste, meu amigo”, disse Shanbo. “Pense nos bons momentos que tivemos juntos. São momentos que ficarão nos nossos corações. Um dia, quem sabe, nos veremos de novo.”
Yingtai baixou a cabeça e partiu. Só depois de ouvir o pesado portão fechar-se atrás de si é que se permitiu chorar, pois não queria que o amado presenciasse seu pranto.
Quando Shanbo voltou para o pátio da escola, ele viu a esposa do mestre parada perto da cozinha. Essa era a ocasião que ela vinha esperando. Ela então contou ao rapaz a verdade sobre Yingtai.
Shanbo a princípio não acreditou nela. Mas então ele se lembrou das coisas que Yingtai lhe dissera. Mais  de uma vez ela havia comparado a amizade entre eles com os galhos que compartilhavam do mesmo tronco, como pares de trutas nadando juntos no riacho. Que tolo ele tinha sido! Como ele não tinha entendido essas comparações tão óbvias!
Foi então que ele tomou uma decisão. Dirigiu-se ao seu quarto, que ficava no andar de cima da escola, e arrumou suas poucas coisas. Não levou muito tempo até descer e partir em busca de Yingtai.
No entanto, durante a ausência de yingtai, seu pai havia combinado casá-la com um jovem de uma família rica e influente, que Yingtai nunca tinha visto.
A notícia de seu noivado chegou até ela antes de ela entrar em casa. Abalada, chorando copiosamente, ela contou a seu pai sobre o homem que havia conquistado seu coração. O negociante, que sempre concordava com tudo o que a filha lhe pedia, dessa vez estava firmemente decidido a fazer as coisas a seu modo. O casamento seria celebrado, quer ela gostasse ou não.
Por isso, quando Shanbo chegou à casa de Yingtai, ela só pode se encontrar com ele por alguns minutos e contar-lhe que já estava destinada a outro.
Marcado pela dor, Shanbo foi embora. Desolado, o pobre enamorado morreu de melancolia pouco tempo depois.
Yingtai foi informada da morte de Shanbo no exato dia de seu casamento. Ela pediu ao pai que parasse no túmulo de Shanbo a caminho da casa de seu noivo. Ele concordou, embora um tanto receoso.
Quando a comitiva nupcial chegou ao túmulo de Shanbo, uma simples pedra na beira da estrada, marcada com seu nome, Yingtai desceu do palanquim e tirou seu vestido vermelho de casamento. Por baixo dele havia um segundo vestido, todo branco, que é a cor do luto na China. Ela se prostrou diante do túmulo do seu amado, que se abriu e levou Yingtai para dentro.
Dali em diante, ninguém mais viu a moça, mas de tempo em tempos, os viajantes às vezes vêem um par de grandes borboletas brancas voando alegremente por entre as flores.
Dizem que elas são a reencarnação de Shanbo e Yingtai.
 

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