quarta-feira, 21 de março de 2012

DNA Canibal?


Somos canibais por essência? 
 

A

lguma vez você já se imaginou comendo carne humana? Essa idéia parece asquerosa para você? Você acha que não seria capaz disso? Será mesmo? Pois evidências em nosso DNA apontam para o inverso.
Um dos maiores pesadelos desde que somos crianças é sermos devorados pelos canibais, seres “selvagens e brutais” que comem a carne dos homens, preparam nossos ossos, tecidos, órgãos como se prepara qualquer outra carne, como um frango, um porco, uma vaca. Esse pesadelo mesmo depois de adulto nos persegue, contudo parece que nem sempre foi assim.
Como falamos em outra postagem, a cultura do ser humano vem sendo moldada, mesclada, e alguns pontos foram assimilados e outros excluídos e podemos dizer que ao longo do tempo viemos excluindo de nossa dieta o homo sapiens, ou seja, o ser humano. Essa afirmação pode parecer chocante, mas segundo as recentes descobertas no código de DNA, não o é, realmente comíamos nossos semelhantes.
Para muitos a hipótese de canibalismo apenas seria aceita em casos extremos, como em
 um acidente. Há algum tempo li um livro sobre este tema,o livro que também foi baseado em fatos reais. Na história os navegantes se perdem em uma forte tempestade, se chocam contra penedos e ficam presos neles, longe de qualquer alimento, seja ele vegetal ou animal, uma vez que são rochas protuberantes no mar e de dificílimo acesso, devido à alta probabilidade dos navios afundarem, como aconteceu com eles.
Cronos, Deus do Tempo, devorador de tudo, inclusive de seus filhos
Como não havia o que comer, com exceção de escassas ostras, os 23 tripulantes começaram a morrer pela fome assim como pelo frio. E um dos personagens sugere que comam os mortos, é carne, diz ele, e eles agora não precisam mais de seus corpos. Para nós imaginar isso é praticamente impossível, mas na situação em que se encontram é a sobrevivência, ou comem, ou também morrem. Morrer lentamente por inanição ou sobreviver? Essa pergunta apenas podemos responder estando nestes casos extremos.
Mas aí surge a pergunta capciosa, certo em casos extremos tudo bem, mas e nos outros casos, em que não estão passando fome e mesmo assim devoram as pessoas? Nossa cultura criou tal medo dos “canibais” que os imaginam como seres sem alma, sem rosto, que apenas vivem da carne humana, que são caçadores dos humanos. Na verdade não é assim que as coisas funcionam.
Canibalismo entre os Neandertais
Segundo os antropólogos o canibalismo se divide em dois grupos o exocanibalismo, que significa comer carne humana fora do grupo a que se pertence, geralmente em extremos de agressividade, como devorar os prisioneiros de guerra, para poder assimilar o guerreiro e também para mostrar o domínio do vencedor sobre o outro. E o segundo tipo de canibalismo é o endocanibalismo, que significa comer a carne de membros do mesmo grupo, para honrar seus parentes, assimilá-los nos vivos. E claro, além desses dois há o canibalismo extremo abordado anteriormente como forma de sobrevivência.
Este tema é amplamente estudado por cientista e antropólogos e verificou-se que ele é mais comum do que se imagina. Uma descoberta que abalou o mundo foi à descoberta de uma possível assinatura canibal em nosso DNA.
O gene que os cientistas investigaram contém as instruções para a produção de uma proteína conhecida como príon, que, em condições normais, é crucial para formar as conexões entre as células do cérebro. Acontece que o príon também pode ser fatal. Quando sofre uma pequena alteração de formato, ele pára de funcionar e ainda por cima começa a infectar outras moléculas semelhantes: príons do cérebro todo passam a ter o formato modificado.
Com a mudança, enzimas que normalmente os destruiriam deixam de fazer efeito. Os príons se acumulam no cérebro e começam a matar neurônios. O cérebro se enche de buracos, a vítima perde todo o juízo e morre de forma terrível. É a doença de Creutzfeldt-Jackob, cuja versão em bovinos é conhecida como mal da vaca louca.
Por sorte, o problema aparece por ano em apenas um em cada milhão de indivíduos. Mas esse número pode aumentar. Se o cérebro de um doente for comido por alguém saudável, o príon maligno pode infectá-lo também. Ou seja, um marca confiável de canibalismo numa população são índices excessivamente altos de Creutzfeldt-Jackob.
Por exemplo, entre os forés, uma tribo das montanhas da Nova Guiné, a doença (chamada por eles de kuru) estava fora do controle nos anos 50: matava 1% da população por ano e chegou a deixar alguns vilarejos quase sem mulheres jovens, as mais afetadas pela doença. Como se descobriu mais tarde, a epidemia era causada pelo costume de comer os próprios mortos em cerimônias funerárias, nas quais as mulheres e crianças ficavam com o cérebro – tornando-as alvos fáceis para o príon maligno.
Tendemos a ver os canibais desta forma
Os homens comiam os músculos e até as fezes que ainda tinham sobrado no intestino grosso do falecido. “A preocupação espiritual que eles mostravam pelo corpo do parente morto e o desejo de incorporá-lo ao dos vivos são similares à crença cristão na transformação do pão e do vinho no corpo de Cristo” diz o médico australiano Michael Alpers, da Universidade Curtin de Tecnologia, um dos cientistas que descobriu a forma de transmissão do Kuru (e basta observarmos nossa cultura ocidental de fora que veremos como somos canibais, pois todas as vezes que você vai a uma missa e o padre diz que aquele pão e aquele vinho são o corpo e o sangue de Cristo e você realmente acredita nisso, você está agindo como um canibal ao comer carne humana). A mortandade só parou nos 50, quando o governo proibiu a prática.
Alpers e seus colegas ingleses verificaram os forés com duas versões diferentes do gene do príon, uma vinda da mãe, tinha uma chance muito maior de sobreviver. De 30 mulheres com mais de 50 anos que haviam participado das cerimônias antropofágicas, nada menos que 23 – cerca de 77% - tinham esses genes “híbridos”. Os índices altos são uma prova da evolução operando – como o gene ajudava as mulheres a sobreviver depois da cerimônia, ele se tornou cada vez mais comum ao longo das gerações.
Mas a surpresa veio quando os pesquisadores testaram a freqüência desses genes em outros povos do planeta. Nada menos que 48% dos turcos, 41% dos colombianos e 38% dos franceses eram como a maioria dos forés. A porcentagem alta nessas populações que - ao que se saiba – nunca foram antropófagos, é índice seguro de que, no passado ela cometiam o endocanibalismo, como forma de lidar com os mortos.
Geneticistas calculam que isso foi incorporado no DNA há uns 500 mil anos, mais ou menos a idade de muitos esqueletos canibalizados encontrados na Europa.
 
Desta forma vemos que o nosso tão temido pesadelo nem sempre foi considerado e visto como um, mas sim como parte da cultura, como uma manifestação cultural da sociedade, uma forma de respeito com os mortos.  Ainda temos muito o que aprender com nosso passado, e muitas vezes ele está escrito em nós mesmos, literalmente falando, como podemos perceber através de nossos genes.
Um grande a abraço a todos
Até a próxima postagem
Pallas


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