Ser Guerreiro
Hoje sinto a presença inegável de uma velha amiga. Estive por tanto tempo esperando a sua visita e ao mesmo tempo afastando-a, que hoje, finalmente posso abrir-lhe as portas de minha vida.
E como a presença desta amiga sempre foi palpável, ela agora se manifesta. Caminha até mim, senta-se ao meu lado e juntos olhamos estes verdes prados, que um dia foram marcados pelo rubro líquido vital dos homens, os corpos eram as elevações do terreno. A correnteza, antes límpida, se tornou o cálice de um macabro vinho.
––Lembra-se, Eterno Guerreio?
––Sim, minha amiga. Neste dia tiveste muito trabalho. Apesar de todo o horror pelas quais minha carne já passou, o fragor da guerra ainda não deixou de fluir por meu sangue. Há algum tempo atrás uma criança, com aqueles olhos puros e inebriados por uma sede de poder, me perguntou o que era ser guerreiro.
––E o que respondeste?
––Disse o que habitava em mim. Ser guerreiro é mais que simplesmente portar uma armadura, uma arma. É sentir, em cada bater do coração, o retumbar da guerra, é viver em busca de si através de nossos corpos. Um guerreiro só encontra as respostas através da lâmina de sua espada, que é sua própria alma. Nos movimentos da espada, no momento do embate, a mente do guerreiro vaga, é tanta morte, o cheiro e o gosto ferroso do sangue, o insuportável ruído constante de metal contra metal, membros arrancados, pessoas que você aprendeu a amar, a ter como sua família, morrendo diante de seus olhos e você tendo que salvar a própria vida.
O momento angustiante antes da batalha, o coração acelerado, o grito ecoante da guerra, através da boca dos tambores.
Tudo isso, eu disse a criança. Mas hoje... Vejo que ainda é mais, que é algo que não se pode explicar, apenas sentir. Você poderia me ajudar a compreender, velha amiga?
––Sim. Seus sentimentos... Apenas um guerreiro pode sentir. Aqueles que nunca estiveram em uma guerra não sabem o que realmente é viver, o seu valor. E também, não sabem o que habita na alma de cada guerreiro, que precisa matar, quer queira, quer não.
––Obrigado. Sei que não morro como um guerreio...
––Na verdade, amigo, olhe para os prados além dessa colina. Agora se desenvolve a maior batalha que o Mediterrâneo já viu. Você parou de ver os acontecimentos ao seu redor. Como último desejo, te concedo a morte de um guerreiro. Salve aqueles que ama, Eterno Guerreiro e lá, no campo de batalha, te segurarei em meus braços
Gostei muito ! o conto ainda que reduzido, que é ancorado na narrativa poética é um dos meus preferidos ! e você o faz muito bem !
ResponderExcluirAbraços
Obrigado Antonio, a narrativa poética é realmente fascinante e envolvente, nos leva a inúmeros mundos, com as palavras daqueles que os contam, por isso é tão importante contar histórias.
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