Aquela Rua Sossegada
Em um país distante daqui muitas e muitas milhas, havia uma grande cidade e nela, uma rua pequena, com poucos quarteirões, sem saída, parecendo um pequeno condomínio.
Era uma rua sossegada. Todos os moradores se conheciam e tudo transcorria em harmonia, até que chegaram novos habitantes para uma casa recém-desocupada.
Começaram os comentários:
–– É uma família estranha.
–– A dona da casa é esquisita.
–– Pinta-se demais.
––Parece que passa o dia dormindo.
––Seus filhos ficam muito na rua.
––Recebe vários homens.
––Recebe até casais, às vezes acompanhados de uma mulher jovem.
––Parece que faz uso de drogas.
––Dá-se o luxo de ter uma governanta.
––Não tem marido.
––É... deve ser “daquelas”
A maledicência chegou ao ponto máximo e depois começou a diminuir, “como é comum entre os homens”.
A estanha família foi relegada ao ostracismo e os vizinhos proibiram os filhos de brincar com”aquelas crianças”.
A rua retornou à sua quietude.
Um dia, viram uma ambulância chegar e levar a senhora. Na semana seguinte, souberam de sua morte ocorrida em um hospital.
Vieram alguns casais, levaram as crianças, e a “governanta” ficou mais um tempo, fechando a casa. Foi por ela que souberam de tudo. Aquela senhora, viúva de um militar, morto em combate, sofria de uma doença incurável, em fase terminal. Resolveu deixar o hospital para passar os últimos dias com os filhos e uma grande amiga, que veio para ajudá-la. Tomava analgésicos poderosos para amenizar as dores. Pintava-se muito para disfarçar a palidez. Os filhos brincavam na rua para não presenciar o tempo todo o seu sofrimento.
Os homens eram o seu médico, o advogado, o psicólogo, o pastor de sua igreja.
Os casais eram as pessoas que tinham a intenção de adotar seus filhos. A mulher jovem era a assistente social.
Era uma rua sossegada de pessoas boas, generosas e gentis...
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