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domingo, 4 de setembro de 2011

A imensidão

 A imensidão
O arco e a flecha
Apontados para um céu
Um céu brumoso
Onde o cinza torna tudo opaco
Sem vida
A melancolia dos céus é sentida em uma fina cortina de chuva que cai
Uma chuva gélida
Desprovida de calor
De vida
Apenas um esboçar
Um esboçar de um vago amor
De uma aceitação
Desprovida de razão
Um arder brando
E sombrio...
Minha pele eriça-se sob este toque macio
Por quê?
O que faço nesta montanha?
Olhando para esta vastidão branca...
Sem cores...
Sem vida...
Não me lembro da razão de estar aqui
Mas porto um arco
Um aljava
E nela
Sete setas...
Setas  translúcidas com a sombra de antigas cores
Talvez as cores do arco-íris
 Não posso dizer
Mas...
Uma flecha paira em minhas mãos
Prateada
Como a luz da lua se refletindo em um plácido lago
Mas a placidez é conturbada
Ondas se espalham pela superfície
Talvez....
Não...
Não pode ser...
Essa brancura me lembra esta flecha
E...
A ponta se encontra maculada
Maculada...
Por sangue...
Um gota escorre
Vejo-a cair
Suavemente sobre a neve
Manchando a branquidão
Mas esta não é a única gota
A macular a veludez da neve
Acompanho um fluido...
Ele forma uma linha continua na neve
Um risco vermelho
Descendo a montanha
Pelos vales
Uma linha rubra em meio ao branco incessante
De onde vem?
Percebo em meu braço esquerdo, que porta o arco
Um fluido quente
É este líquido que macula a brancura
Por quê?
Por que ele escorre de mim?
Me sinto fraca
Minha vida se esvai lentamente...
Mas também...
É como se o mundo
Também morresse
Ao longe...
Vindo até mim
Vejo um ser
Trazendo uma suave brisa
Levantando meus cabelos
Posso senti-los
Eles esvoaçam
Esvoaçam para formar a cortina que separa os mundos
O véu de um sono eterno
O ondular dourado...
Desvio o olhar
Concentro-me em meu sangue
A cada gota...
Um novo começo
Ou talvez um fim
Um fim para mim?
Ou para o mundo?
Quem está perecendo?
Então começo a esmorecer
Ajoelho-me
A última gota cai
E com ela minha consciência
De minhas mãos caem o arco e a flecha  prateada
Desfazem-se sob o toque da neve
Não existem mais...
Antes de tocar a neve
O ser ampara-me
Em seus braços cálidos
Sinto a presença de algo eterno
Quem será que me ampara?
“Sou a vida
Sou a morte
Sou o que há
E o que não há
Vim levá-la
Sua missão acabou”
“Acabou?”
“Não precisas mais dar tua vida. O mundo perece. Já não é capaz de salvá-lo”
“Salvar?”
“Venha comigo. Chegou sua hora. Não possui mais sangue para dar pelo mundo’
“Vejo apenas o nada. Por que não consigo ver?”
“Porque a razão de sua visão acabou. Não precisas mais ver o que te cerca. Lembra da imensidão branca riscada apenas pelo vermelho?
“Sim”
“Agora o vermelho de seu sangue espalha-se. Praticamente não há mais branco. O mundo a sacrificou, você é sua própria oferenda. Mas... Já não há mais salvação...
Chegou a hora de dormires eternamente, após sua ardorosa luta  por estes seres”
Posso sentir as mãos do ser cobrindo meus olhos e me fazendo dormir
O sono eterno
A eternidade...
Ela me parece tão vasta
E sem sentido
Mas...
Estou...
Dizendo Adeus aos seres...
Um lágrima escorre de meus olhos
 





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