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domingo, 4 de setembro de 2011

Canto Africano

Canto Africano
Eu vejo teu solo repleto de vida,
Teu povo feliz, vivendo em harmonia.
Escuto teu canto, acompanho tua lida,
Na caça, na pesca, em teu dia a dia.
Tua gente é alegre e vive integrada
À mãe natureza, bondade e abrigo.
Fonte de amor, também, muito amada,
Por quem é feliz, vivendo contigo.
Teus filhos são fortes, guerreiros valentes Que cortam as savanas, sentindo os açoites Dos ventos que sopram histórias dolentes, Enquanto eles dançam, cantando nas noites. Durante o repouso, buscando sua origem, Nas asas do sono, teus filhos deliram
E quando despertam daquela vertigem,
Há só a lembrança, os deuses partiram.
E tal qual estrelas correndo nos céus,
Fugindo do sol em cada amanhecer,
Os deuses retornam, envoltos nos veús
De corpos suados, de mãos a tremer.
E chegam ditando regras p'ra vida,
E ensinam lições muito bem ajustadas.
A todos suplicam, ao amor dê guarida,
Assim como nesta e noutras jornadas.
E por noites e dias, teus filhos viveram, Em liberdade, labuta constante,
Enquanto nas noites, os sons dos terreiros Falava da vida num mundo distante.
Um dia, porém, agitou-se a savana
E teu povo julgou assistir a chegada
de deuses descendo em caravana
E
busca da África, sua filha amada.

Mas logo notou, com olhar de tristeza:
Aqueles não eram santos da noite.
De armas em punho, exibiam rudeza,
Enquanto faziam estalar o açoite.
Pegavam teus filhos e filhas tão belas, De pele de ébano, dentes de marfim.
Metiam-nos à ferros, como se feras,
Levadas aos circos de terras sem fim.
E em longas noites cheias de agonia
Viveram suas horas de drama e horror
E dilacerada a África sofria,
Saudade dos filhos, cevada de dor.
E na travessia longa e penosa,
Os braços da morte logo acolheu
Bravos e belas que a vida inditosa
Matou a esperança e por fim, feneceu.
Um dia, cansados, numa terra estranha
Carpindo, chegaram os sobreviventes,
Farrapos tomados de dor tamanha,
Arrastando no solo pesadas correntes.
Da terra distante, só a doce lembrança, Nas horas difíceis do duro labor.
Somente a saudade, somente a esperança, Em gota orvalhada do bálsamo do amor.
E aí, pouco a pouco, a alma dorida,
Ao som de atabaques nas noites escuras, Indagou dos deuses da África perdida:
Por que esta vida de exílio e amarguras? E os deuses, atentos, falaram aos aflitos: Meus filhos, a dor que os faz padecer,
São velhos lamentos, gemidos e gritos
Daqueles que, ontem, fizeram sofrer.
Se querem purgar os erros de outrora,
Aceitem, contritos, a dor do momento,
Amem esta terra e ensinem, agora,
Que só o amor elimina o tormento.
E então, cada noite se encheu de repente, De um hino de paz, em cada terreiro.
Era o negro sofrido, que em canto dolente, Plantava o amor em seu cativeiro.

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